sexta-feira, 12 de abril de 2013

A importância do hábito de poupar

Já vi posts que comentam sobre o percentual ideal a ser economizado para uma velhice mais digna.

Também já li inúmeros posts que comentam sobre o valor mágico ou o percentual dos rendimentos a ser guardado todo mês para alcançar a tão sonhada independência financeira, ou então que, pelos menos, ensinavam o caminho das pedras para buscar uma honrosa semiaposentadoria.

Não faltam também textos que justificam o controle das pequenas despesas e o seu impacto num orçamento doméstico. Todos louváveis, diga-se de passagem.

Toda e qualquer informação que venha somar esforços para que se crie na consciência das pessoas o hábito de poupar e/ou investir é fundamental para que melhoremos o nosso futuro e, por que não dizer, de toda a economia do nosso país.

Vejam vocês o problema que se avizinha aos norte-americanos. A geração atual, caso nada seja feito, será a primeira depois da Grande Depressão que terá um padrão de vida na velhice pior que a de seus pais e avós. E isso foi originado graças a anos de políticas de incentivo ao consumo que, apesar de inflarem o PIB no curto prazo, comprometem a poupança do país e seu crescimento quando vislumbramos um período mais longo de tempo.

Mas este problema não preocupa só nos Estados Unidos, tampouco pode ser considerado um problema do futuro. A Espanha nos mostra que a ausência de poupança combinado com o gasto excessivo feitos por uma geração podem deixar toda uma nação de joelhos. Independente do tamanho e do peso de sua economia para o mercado global. O vídeo abaixo demonstra bem isso:



A meu ver, o conjunto de notícias é ainda mais preocupante porque, mesmo depois que esta política de crédito barato e sem critério ter levado à crise do sub-prime nos EUA e a esta interminável bola de neve europeia (a bola da vez agora é a Eslovênia), incentivar o consumo das famílias continua sendo a base da política econômica brasileira.

Pois é... e o nosso auto-intitulado 'levantador de PIB' Guido Mantega não consegue entender que esta bala de prata já não funciona mais. Talvez, depois da divulgação da prévia do PIB de fevereiro e da inflação de março, ele seja acometido por uma crise de consciência que o faça perceber que, como o consumo foi estimulado mas a incústria continuou amarrada por custos de produção elevados e investimentos proibitivos, nossa inflação atual acaba sendo consequência de uma demanda tanto irracional quanto artificial - e não fruto de aumento da cebola ou do tomate.

Querem um exemplo? O Governo incentiva a compra do carro 0Km, mas para manter esta frota circulando precisa importar gasolina, cuja produção nacional não acompanhou a demanda. O engraçado disso tudo é que a oferta de gasolina nacional já é 'maquiada' pela mesma possuir 20% de etanol na sua composição - produto que também vem sendo importado, graças à preferência das usinas pela produção de açúcar.

Querem outro? O Governo incentiva a utilização de energia elétrica anunciando um corte médio de 20% na fatura mensal das famílias ao mesmo tempo em que utiliza recursos do Tesouro para subsidiar a utilização de termelétricas como forma de se evitar um apagão, fruto da sua inépcia na construção de novas usinas e linhas de transmissão.

Em resumo, a solução da nossa estagflação depende de investimentos que não foram feitos/estimulados no momento oportuno e também de cortes no gasto público que possibilitem uma redução da nossa carga tributária - coisa que o PT nem cogita fazer. Assim, justifica-se perfeitamente o fato dos outros países estarem saindo da crise, mas o Brasil ainda não.

Como a bolsa não é cassino, mas reflexo de nossa economia, atesta-se tamanho pessimismo em nosso Ibovespa por parte dos grandes players. Pudera, como desejar que a bolsa de São Paulo acompanhe os índices mundias enquanto nossas empresas vão perdendo competitividade, o que reflete diretamente na diminuição dos seus lucros?

Economizar, ao contrário do que pensa o Governo Federal, não é maquiar superávit, ou então inflacionar lucro de estatais para depois ter de socorrê-las por gestão temerária. Economizar é cortar na carne, mesmo. Não existe economia nominal quando um país precisa emitir dívida nova para fechar seus pagamentos.

E economizar não deve ser uma mera política cíclica, mas permanente, de Estado. Incentivar a poupança de todos é a maneira mais segura de se assegurar o crescimento consistente de uma nação. Não é a toa que ainda engatinhamos neste quesito, enquanto a China 'patina' crescendo 7% a.a.

Na minha casa fui ensinado desde pequeno a economizar dinheiro, tanto quanto fosse possível. Quando questionava o motivo, ouvia sempre a mesma resposta: "para você ter quando precisar".

Parece um conceito simples hoje, mas numa época onde o dinheiro do mês era proveniente de uma mesada este conselho não fazia o menor sentido.

Só que bastou ficar um pouco mais velho para o dinheiro começar a faltar. Toda vez que queria algo, a mesada sozinha não dava conta. E assim o conceito foi se arraigando porque, de fato, criança não tem a opção de fazer um empréstimo bancário para comprar o que deseja.

Por isso não me preocupo muito em descobrir o valor ideal para se economizar, ou então o percentual ideal. O importante é o hábito, o costume de se evitar gastos desnecessários em favor de uma segurança futura. O resto é consequência das boas práticas. Coisa que este país ainda não tem, salvo raras exceções.

Aqui só nos preocupamos com a água quando o poço já está seco. E só nos preocupamos com a ração dos animais quando eles já estão morrendo de fome. Não estou inventando nada, é o que ocorre neste momento no Nordeste.

Para quem ainda tem dúvidas a respeito de que nosso país ainda carece de educação financeira, mesmo para quem deveria nos ensinar a planejar melhor nossas finanças, leiam este texto extraído do Valor e tentem explicar a solução apontada pelos 'especialistas' do IBCPF quanto a reorganização das contas do cliente fictício. Soa como piada uma pessoa que ganha R$50.000,00 por mês ouvir de um renomado especialista que terá de vender o único imóvel e ir viver como agregado na casa da sogra para poder curtir sua tão sonhada aposentadoria. Bom final de semana a todos!

4 comentários:

  1. Olá LL !! muito bom esse vídeo sobre a crise espanhola !!
    Li seus posts e concordo plenamente em vários aspectos, nossas histórias são parecidas !
    Muito estudo e disciplina para continuarmos longe dos limites que nos são impostos !!!

    Abraços

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  2. Obrigado pela visita e comentário, Zé!

    Escolhi este nome porque acredito mesmo não haver limite que seja capaz de impedir a concretização dos nossos sonhos: cabe a cada um de nós pagar o preço para torná-los realidade! Abraço!

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  3. Belo ponto de vista sobre esse incentivo ao consumo por parte do governo quando ele mesmo não tem recursos para lidar com o aumento do consumo. Acredito que isso também é culpa da população que compra o carro e depois reclama do preço da gasolina. É por isso que como disse aqui: http://heliovogas.wordpress.com/2013/04/12/a-importancia-da-educacao-financeira/ temos que cada vez mais nos educarmos financeiramente e digo mais, precisamos nos juntar para proporcionar a população educação financeira de qualidade, assim como o 21st century education faz na austrália. Acredito ser nosso dever como cidadãos!

    Um abraço e parabéns pelo texto!

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    1. Boa noite, Hélio!

      De fato, lidamos com um problema crônico. E global.

      Ocorre que é mais fácil e tem efeito imediato incentivar o consumo do Governo e das famílias, mas se trata de uma solução temporária, um quebra-galho, até que as reformas necessárias surtam efeito na economia.

      Como estas reformas foram deixadas de lado, o endividamento público e a inadimplência foram às alturas, basicamente o que gera agora esta crise de confiança na Europa e, aliada à inflação alta, o nosso fraco desempenho econômico.

      Concordo plenamente que todos temos o dever de conhecer e de compartilhar o que vamos aprendemos a respeito de educação financeira, e o exemplo do que já acontece na Austrália demonstra que não se trata de filantropia: educação financeira é um negócio bastante lucrativo! hehehe, abraço!

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